sábado, 19 de março de 2022

[0119] Museu do Mármore, Vila Viçosa

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Foto CMVV

[0118] Para o Curso de Escultura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa

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[0117] Simpósios de escultura em pedra

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"Alexandre Herculano", Avenida da Liberdade, Lisboa, esc. Barata Feyo - Foto Joaquim Saial

[0116] Por uma questão de lealdade

Estávamos a publicar neste blogue os nossos textos que têm saído no jornal cultural portuense "As Artes Entre as Letras". Hoje mesmo, no post anterior, reproduzimos o sexto da série. Contudo, só agora verificámos na ficha técnica do jornal que não é permitida a reprodução de materiais do dito (no mesmo, a frase está escrita em caracteres muito pequenos e mais claros - a imagem aqui reproduzida está bem ampliada). Ora, embora sejam textos nossos, por uma questão de lealdade, deixamos de os divulgar no "Aqui, há Escultura!", a partir de hoje. O que está, está, o que sair, sairá só em papel. E, obviamente, aconselhamos a assinatura de "As A. E. as L."...

[0115] 6.º texto de Joaquim Saial no jornal cultural "As Artes Entre as Letras" (Porto), de 23.02.2022 ..... Primeira parte de duas





"Manual prático" de destruição de monumentos escultóricos (1/2)

Joaquim Saial


Desengane-se, leitor, se ao dar com o título do presente artigo pensa que o escriba do mesmo apoia a destruição de esculturas públicas que adquiriram anticorpos desaconselháveis à sua presença em jardins, praças, avenidas e ruas. É que, para além de uma estátua poder ser homenagem a figura ou acontecimento hoje reprovável, teoricamente é obra artística, pelo que comporta valores que exigem a sua salvaguarda. Adequado tratamento museológico facilitará, entretanto, a possibilidade de passar a ter acrescido significado educativo, mantendo-se disponível para o estudo da arte. A propósito, recordemos polémica contada por José-Augusto França: no dealbar da revolução do 25 de Abril, a estátua de Oliveira Salazar (esc. Francisco Franco), na altura retirada do pátio do Palácio Foz e depositada no jardim de um edifício público, foi apetecida pelos moradores de certa freguesia e pela sua junta. Queriam estes vendê-la, para com o ganho obtido pelas quase duas toneladas de bronze se fazer um qualquer melhoramento local. Porém, ignoravam os fregueses e o seu presidente "que a estátua não era de Salazar, como se supunha, mas de Francisco Franco" (palavras de J.-A. França, junto das autoridades competentes, tendo em vista salvar a obra). O escândalo fez gorar o "negócio" e a estátua lá sobreviveu [1]. Posto isto, vejamos alguns motivos que originam destruição total ou parcial de monumentos escultóricos:

1 – Estética, como argumento – Falámos no artigo anterior, da demolição das figuras em cimento, designadas como "Fontes", que estiveram sobre as duas construções de remate do sifão de Sacavém (1938, esc. Maximiano Alves) e foram demolidas por razões alegadamente estéticas, de… gigantismo. Noutro caso, um primeiro monumento ao médico Dr. Sousa Martins (esc. Aleixo Queirós Ribeiro, Campo dos Mártires da Pátria, Lisboa), muito criticado por a estátua estar sentada em modesta cadeira (!), a representação foi substituída em 1907 por outra, de pé, da autoria de Costa Mota (tio).

2 – Fúria dos elementos – Circulou desde a criação do "Padrão dos Descobrimentos", feito para a Exposição do Mundo Português de 1940 (arq. Cottinelli Telmo e esc. Leopoldo de Almeida), a anedota que dizia que as figuras patentes em ambos os lados estavam ali para empurrar o infante D. Henrique para o Tejo. Como o monumento inicial era cenográfico, sobretudo de madeira e estafe (embora com esqueleto em ferro) [2], o destrutivo e mortífero ciclone de 14 de Fevereiro de 1941 cumpriu o chiste, atirando de facto a estátua ao rio, onde se desfez [3]. O mesmo sucedeu no dito dia ao monumento de 12 metros de altura com estátua equestre de Gomes da Costa, também ainda em gesso (c. 1940, esc. Alberto Ponce de Castro, executado por Armando Correia, avenida Marechal Gomes da Costa, Porto).

3 – Vandalismo – Uma primeira espécie remete-nos para a vontade de destruir, sem outro fim que não esse. Lembremos os dedos e braços arrancados à estátua da "Verdade" no monumento em mármore a Eça de Queirós (1903, Teixeira Lopes, Largo Barão de Quintela, Lisboa) [4]. Ainda assim, sem que o possamos comprovar com certeza, tais actos poderão eventualmente estar associados ao gosto doentio de possuir souvenirs das obras atacadas ou até negócio, com venda dos elementos arrancados. A estátua de Almeida Garrett (1950, Barata Feyo, Av. da Liberdade, Lisboa – foto do texto) é mais uma à qual foram quebrados dedos. Outro tipo de depredação resulta de estragos produzidos por subida a estátuas, para fazer fotografias com estas por companhia,  como ocorreu em 2016 com a destruição da do Rei D. Sebastião (c. 1890, esc. francês Gabriel Farail, embora se tenha apontado ser de Simões de Almeida, tio) existente num nicho da fachada da estação de comboios do Rossio, quando um turista quis fazer com ela uma selfie [5]. Pura brincadeira, originara a morte de um estudante em 2013, por se ter pendurado do busto em bronze do pintor e cenógrafo José Cinatti existente no jardim público de Évora (1884, Simões de Almeida, tio), que acabou por lhe cair em cima, esmagando-lhe o peito [6]. Melhor sorte teve outro que, em 2014, em Guimarães, suspendendo-se da espada da estátua de D. Afonso Henriques (esc. Soares dos Reis) a partiu, mas escapou ileso [7]. Rematemos o triste rol, com episódio passado durante a transmissão de um jogo de futebol na Praça do Comércio, por altura do Mundial de 2018. Alguém que se empoleirou no monumento ao Rei D. José I (1775, Machado de Castro, Praça do Comércio, Lisboa) partiu um dedo de uma das estátuas laterais, à qual já faltavam outros [8]. Mais exemplos de vandalismo poderíamos dar, propositado ou involuntário, mas estes já dão ideia bastante do recorrente fenómeno.

(continua)

[1] FRANÇA, José-Augusto. Quinhentos folhetins, Col. Arte e Artistas, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1984, p. 390. Modelada para a Exposição Internacional de Paris (1937), a estátua teve pelo menos uma réplica em Lourenço Marques/Maputo. Aquela de que falamos, esteve guardada em local municipal em Loures e agora encontra-se à espera de novo destino em Santa Comba Dão.

[2] O primitivo monumento começou a ser demolido em 2.7.1943, trabalho que se previa durar dois meses. Cinco operários da União de Sucatas retiraram do local 170 toneladas de ferro e 200 de madeira. A este respeito, ver "Diário Popular", 5.7.1943, pág. 1. O actual, em pedra, foi inaugurado por altura do V Centenário da morte do Infante, em 1960.

[3] "Diário de Lisboa", 16.2.1941, pág. 1.

[4] Substituído por réplica em bronze (26.7.2001), o inicial encontra-se no Museu da Cidade, Lisboa.

[5] "Observador", 29.1.2020 e "Público", 9.7.2020 (internet, 7.2.2022)

[6] "Diário de Notícias", 13.8.2013 (internet, 7.2.2022).

[7] "Público", 11.10.2021 (internet, 7.2.2022).

[8] "Observador", 20.06.2028 (internet, 7.2.2022).

"Diário de Lisboa", 16.02.1941

"Almeida Garrett", Av. da Liberdade, Lisboa, esc. Barata Feyo - Foto Joaquim Saial

Mão vandalizada da estátua de Almeida Garrett, Av. da Liberdade, Lisboa, esc. barata Feyo - Foto Joaquim Saial

[0114] Pedro Anjos Teixeira com roteiro na Madeira

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Pedro Anjos Teixeira, mon. ao 25 de Abril, Seixal - Foto Joaquim Saial

segunda-feira, 14 de março de 2022

[0110] Selvagens à solta, em Braga. Estátua vandalizada, felizmente "apenas" com pinturas

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[0109] 2012: a "República", de Bruno Marques

[0108] Ainda e sempre, o "Aleijadinho"

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[0107] O Met tem Picassos a mais...

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[0106] Quando a guerra chega, não morrem só as pessoas; também "morrem" as estátuas

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[0105] A escultura de Hélder Carvalho

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Foto "Voz da Póvoa"

sábado, 5 de março de 2022

[0104] Esculturas de Donatello, em bronze, em exposição em Florença, de 16 de Março a 31 de Julho

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[0103] 5.º texto de Joaquim Saial no jornal cultural "As Artes Entre as Letras" (Porto), de 26.01.2022







Os "contorcionistas invertebrados" de Maximiano Alves

Joaquim Saial


A expressão "contorcionistas invertebrados" é do pintor e ilustrador Carlos Botelho, alusiva aos dois "gigantes", esculturas de figuras masculinas que ladeiam e visualmente suportam as estátuas superiores do monumento aos Mortos da Grande Guerra de Lisboa, inaugurado em 1931. Escreveu-a ele como legenda de um cartoon alusivo, no semanário humorístico "Sempre Fixe" do dia 12 de Novembro, pouco antes da cerimónia de descerramento do conjunto que tem por autores o arquitecto Guilherme Rebelo de Andrade (pedestal [1]) e o escultor Maximiano Alves (1888, Lisboa – 1954, Lisboa). O texto completo é "Senhor Minimiano (por oposição a Maximiano) Alves, o seu modelo ou era molusco ou um contorcionista invertebrado… brado eu e toda a gente…" No cartoon, via-se ainda um desenho da tribuna feita para a ocasião, a que Botelho chamava "Pavilhão estilo 1890, construído em 1931", piada dentro da piada, aludindo neste caso ao aspecto antiquado do mesmo, semelhante que era a outros feitos no século XIX. Botelho detinha a totalidade do espaço da página 8, última do jornal, sob o título de "Ecos da Semana". Ali fazia frequentes alusões a monumentos ou estátuas que se iam erguendo no território continental e ultramarino, em geral com acerto. Contudo, neste caso não era totalmente justo, pois se por um lado as figuras têm algum excesso de pose, por outro asseguram com a energia associada à torção dos corpos a ideia pretendida, de transmitir o agradecimento dos portugueses às suas tropas presentes na Grande Guerra, consubstanciado nas estátuas cimeiras, do soldado e da Pátria que o galardoa com coroa de louros. José-Augusto França falou do gosto "expressionista miguelangesco" de Maximiano imposto aos dois "gigantes" [2]. Na realidade, se eles não têm a perfeição do "David" do Buonarroti, são ainda assim dos melhores exemplares no género e da sua época realizados em Portugal. O monumento tem historial longo, com curiosas peripécias que devido ao reduzido espaço de que dispomos não podem aqui ser contadas. Adjudicado aos autores por escritura de 22 de Outubro de 1925 e descerrado a 22 de Novembro de 1931, é o que do seu tipo mais meios movimentou e apresenta-se como peça que cumpre as funções para que foi criado. Sem grandes rasgos de originalidade, é afinal um monumento honesto, sendo ainda hoje ali que se realizam as cerimónias principais de homenagem aos militares portugueses que serviram o país ou por ele tombaram durante o primeiro grande conflito mundial. 

No final da década, Maximiano Alves reincidiria no modelo de figuras masculinas  em torsão, quando realizou as chamadas "Fontes" para os terminais do antigo sifão de Sacavém, sobre o rio Trancão. O velho aparelho hidráulico de ferro foi substituído por nova estrutura mais monumental, em cimento armado [3], que em cada topo tinha uma edificação encimada por estátua de vasto tamanho, no mesmo material. A obra foi entregue pela comissão de abastecimento de águas a Lisboa e pelo ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco aos irmãos Rebelo de Andrade que por sua vez procuraram a colaboração do escultor. Eis parte da descrição de uma das estátuas, feita no "Diário de Notícias" de 13 de Abril de 1938. "Essa estátua de linhas singelas gigantescas representa um homem, que de joelhos em terra esvazia um enorme cântaro de água. Tem sete metros de altura, mas de pé teria quinze. Essas dimensões fazem dela a maior de Portugal (…) A do marquês de Pombal (…) tem só nove metros). (..) esta (…) é tão volumosa que dentro da cabeça, na sua moldagem de gesso, pode um homem normal andar a vontade, pois tem para isso o espaço de uma saleta  com dois metros de altura (…)". O trabalho levou dois anos a concretizar em gesso e mais um a ser passado ao cimento. Obras inusuais em Portugal, de expressão facetada, para serem  percebidas de longe, tiveram final inesperado, quando foram mandadas destruir "Em nome da estética", como titulava o "Diário Popular" de 9 de Dezembro de 1942, em notícia de 1.ª página: "Em miniatura, as figuras eram de grande efeito. Mas, uma vez em plano de construção definitiva, assumiam tais proporções que dominavam a ponte e tudo em redor, revelando dimensões gigantescas que prejudicavam a ideia de beleza que havia preconcebido a sua realização." 

Esta estranha e rara demolição [4] (que não inédita [5]), havia de ser de certo modo vingada pelo escultor com peça de pequeno volume, figurinha naturalista que novamente em pose de torsão segura com ambas as mãos uma taça em forma de semiesfera. Intitulada "Menino com gamela", está datada de 1948 e situa-se no Jardim do Campo Grande (Jardim Mário Soares), Lisboa.


[1] O monumento está assinado no pedestal por Maximiano Alves e por Guilherme Rebelo de Andrade que a 25 de Novembro recebeu o grau de comendador da Ordem de Cristo, em cerimónia que teve lugar no Palácio de Belém; Maximiano Alves foi agraciado com o grau de oficial. Contudo, alguma bibliografia dá a parte arquitectónica como parceria de Guilherme Rebelo de Andrade e de seu irmão Carlos que de facto fez dupla com ele em vários projectos.

[2] FRANÇA, José-Augusto. A Arte em Portugal no Século XX, Livraria Bertrand, Lisboa, 1974.

[3] Diogo de Macedo já utilizara em 1914 este material de forma pioneira em baixos-relevos no portuense Teatro de São João: "Amor", "Dor" e "Ódio".

[4] Resta uma cabeça, exibida dentro de estrutura metálica, perto do local inicial, desde 1 de Outubro de 1998 (manhã do dia seguinte ao encerramento da EXPO 98), data em que foi inaugurada a requalificação das margens do rio Trancão, na zona da sua foz.

[5] Lembramos, por exemplo, o conjunto "Camaradagem na Derrota" de Hein Semke, mandada destruir pelas autoridades nazis da embaixada germânica em Lisboa, pouco após a sua inauguração (meados dos anos 30), na Igreja Evangélica Alemã de Lisboa.

Foto Joaquim Saial



Foto Joaquim Saial

[0102] Relações da escultura entre Portugal e Espanha nas décadas de 40 e 50 do século XX - Texto de Joaquim Saial (2007)


Artigo de Joaquim Saial "Revista de Estudios Extremeños", Diputación Provincial de Badajoz,  Maio-Agosto/2007 (18 pp)


Ver AQUI (texto completo com possibilidade de fazer download)


[0101] Três "Pietá" de Miguel Ângelo, juntas pela primeira vez. Exposição no Museu Opera del Duomo, Florença, até 1 de Agosto

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"Pietá da basílica de São Pedro"


"Pietá Rondanini"

"Pietá Bandini"

[0100] Atingido o número dos 100 posts

100 posts, em 157 dias, com mais de 8100 visitas, sempre, em prol da escultura e da arte pública escultórica.

A missão vai sendo cumprida.

[0099] Exposição de Alberto Carneiro, prolongada até ao final de Abril

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Foto Santo Tirso TV

[0098] Museu Jorge Vieira reabre hoje em Beja

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Foto Rádio Voz da Planície